Origem
Em maio de 2014, a AT&T – companhia de telecomunicações dos Estados Unidos que fornece serviços de telecomunicação de voz, vídeo, dados e Internet – comprou a DirecTV, que operava no Brasil por meio do serviço de TV por assinatura Sky. Com essa operação global, que custou à AT&T US$ 48,5 bilhões, a companhia entrou com força no mercado brasileiro (e latino-americano) de TV por assinatura e se posicionou como futuro provedor de serviços de banda larga fixa e internet móvel (Reuters, 2014). No Brasil, a compra da DirecTV foi autorizada em setembro de 2014 pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), sem condicionamentos, depois de aprovada em maio pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE.
Até ser comprada pela AT&T, a DirecTV era líder em oferta de TV digital por assinatura nos Estados Unidos e na América Latina. Nos EUA, a DirecTV Holdings LLC (DirecTV US) era a maior provedora de serviços de TV por assinatura DTH (Direct-to-Home, via satélite). A companhia ainda possuía dois canais regionais de esportes, operados pela subsidiária DirecTV Sports Networks LLC.
A origem da AT&T está na própria origem do telefone inventado por Alexandre Graham Bell, o primeiro a explorar o serviço de telefonia nos Estados Unidos. Dominou sozinha (94%) o mercado de telefonia americano até meados da década de 1980, quando o governo dos EUA, baseado na lei antitruste, obrigou a sua divisão em empresas menores, regionais (conhecidas como Baby Bells), a fim de estimular a concorrência. “Com o acordo entre a antiga AT&T e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a AT&T concordou em se desfazer das suas operações de telefonia local, mas manteve o serviço de longa distância, de pesquisa, desenvolvimento e fabricação de produtos. A partir desse acordo, surgiu a SBC Communications Inc., antes conhecida como Southwestern Bell Corp” (AT&T, 2014).
Já a DirecTV teve origem na Satellite Broadcasting, fundada em 1981 por Stanley Hubbard com objetivo de desenvolver um sistema de televisão por assinatura via satélite inédito nos EUA. Hubbard conseguiu que a General Motors e a RCA Consumer Electronics desenvolvessem um satélite com capacidade para oferecer 150 canais de televisão digital e o sistema passou a ser oferecido por sua empresa e também pela USSB (US Satellite Broadcasting) a partir de 1994. Em 1998 a DirecTV comprou a USSB por US$ 1,3 bilhão de dólares, expandindo sua base de clientes para cerca de 4,5 milhões de assinantes. Nos anos seguintes a empresa adquiriu outras companhias e entrou no mercado japonês (2000) e mexicano (2004). No final de 2013 a DIRECTV liderava no segmento via satélite nos EUA, com cerca de 20,3 milhões de clientes e cobertura de 99% do território americano – 99% dele em alta definição (HD).
Na América Latina, a empresa atuou como DirecTV Latin America Holdings, Inc. (DirecTV Latin America), oferecendo serviços a partir de sua subsidiária PanAmericana (100% sob seu controle) na Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Porto Rico e Venezuela, com aproximadamente 6,2 milhões de clientes ao final de 2013. No mesmo período era proprietária da Sky Brasil (93% das ações), cobria o território nacional brasileiro com 5,4 milhões de clientes e possuía 41% da Innova (Sky México), com cerca de 6 milhões de clientes no México, República Dominicana e outros países da América Central. Ao todo, a “licença de espectro” da DirecTV Latin America cobria 43 milhões de residências na Argentina, Brasil, Colômbia e Peru.
Linha do tempo
A entrada da DirecTV no mercado brasileiro aconteceu em 1996, com a fundação da DirecTV Brasil (registrada Galaxy Brasil Ltda.), subsidiária da companhia americana e da Galaxy Latin America Group e com o Grupo Abril entre os seus sócios. A maior concorrente da DirecTV no Brasil era a Sky Brasil, fundada também em 1996 a partir de uma união entre a Globopar, a British Sky Broadcasting, a News Corporation e a Liberty Media International. Em 2004, com a compra da DirecTV pela News Corporation, do magnata Rupert Murdoch, houve uma reestruturação do mercado e a fusão entre as duas empresas nos países latinos em que havia atividades da Sky, caso do Brasil.
O processo de fusão começou a tomar forma em 2003, quando a News Corporation adquiriu em nível mundial a DirecTV. Incluída na aquisição estava a DirecTV Latin America, que passava por processo de concordata e era controladora da DirecTV Brasil, concorrente direta da Sky. Em 2002 a Globopar havia passado o controle acionário da Sky Brasil para a News Corporation, reduzindo sua participação de 54% para 49,9% e, posteriormente, para 37%. A News Corporation, dos originais 36% passou a ter 51% de controle, ficando a Liberty Media com os 12% restantes. A aquisição da DirecTV pela News Corporation teve de ser analisada pela Anatel e pelo CADE, que a aprovaram mediante assinatura de um acordo em que a DirecTV e a Sky se comprometiam a manter suas operações separadas. Dados de junho de 2004 da Anatel mostravam que, juntas, a Sky e a DirecTV representavam 97% do mercado de TV por assinatura via satélite no Brasil, tipo de modalidade que correspondia a 34,4% do mercado de TV por assinatura no país. A Neo TV, associação que reunia 51 empresas do setor foi contra a possível fusão, temendo que houvesse exclusividade de programação que prejudicasse a concorrência. Na época, a DirecTV possuía exclusividade sobre a HBO Max Digital, por exemplo.
Em outubro de 2004 ocorreu o anúncio da intenção de fusão entre a DirecTV e a Sky no Brasil, sendo controlada em 74% pela DirecTV (propriedade da News Corporation) e em 26% pela Globopar, com gestão exercida pela primeira. Na reestruturação dos mercados latino-americanos, a News Corporation optou por manter a marca Sky no México e Brasil e DirecTV nos demais países. A fusão foi aprovada pelo CADE em 2006, com restrições que visavam evitar maior concentração do setor – durante cinco anos a Sky deveria praticar preços iguais em todo o território nacional, permitindo promoções locais pelo prazo máximo de 90 dias. Foi proibida também a discriminação de concorrentes, a exclusividade no fornecimento de conteúdo audiovisual e a abstenção do Grupo Globo de vetar ou determinar condições para a transmissão de programas ou conteúdo audiovisual nacional de empresa brasileira nas operações da Sky. Com essa fusão, a nova Sky Brasil surgiu com mais de 1,2 milhão de clientes (805,8 mil da Sky e 428 mil da DirecTV, segundo dados da Anatel de junho de 2004).
Em 2008, a Federal Communications Commission (FCC), órgão regulador de telecomunicações nos EUA, aprovou a passagem do controle da DirecTV da News Corp. para o Liberty Media Corp. Na transação, a News Corp. abriu mão de 41% da DirecTV em troca das ações do Liberty na própria News Corp. O Liberty Media ainda levou US$ 550 milhões e três canais esportivos regionais em troca dos 16,3% de participação acionária na News Corp. Em junho de 2010 a Globopar anunciou a venda de 19% do capital da Sky Brasil para a DirecTV /Liberty Media Corp.
Atuação
A Sky Brasil oferece serviços de TV por assinatura via satélite (DTH), inclusive na modalidade pré-paga. Foi a primeira empresa a oferecer serviços de internet banda larga móvel com tecnologia 4G no Brasil, em 2011 no Distrito Federal, apesar de optar por não realizar convergência de serviços em pacotes estilo “quadriplay”. Atualmente o serviço está disponível em 74 cidades do país.
Controladores
A DirecTV Latin America controlava 93% das ações da Sky Brasil e a Globo Comunicações e Participações (Globopar) os 7% restantes. Com a venda da DirecTV para a AT&T, o controle da holding passou para a operadora americana.
Mercado brasileiro
Dados de setembro de 2014 da Anatel disponibilizados pela consultoria Teleco mostram que a Sky tinha 29% do mercado de TV por assinatura no Brasil, abaixo somente da operadora de TV a cabo Net (América Móvil), com 53,2%. A fatia do mercado corresponde a 5,6 milhões de clientes, contra 10,3 milhões de clientes da Net. Juntas, as duas companhias correspondem a 82,2% do mercado brasileiro. Em 2013 houve redução de 0,8% no market share da Sky, justificado pela DirecTV com a retirada da base da empresa dos assinantes que não estavam mais utilizando os serviços contratados.
Movimentações recentes
A venda da DirecTV para a AT&T foi o segundo maior negócio do setor nos Estados Unidos e a transação de US$ 48,5 bilhões – US$ 67 bilhões incluídas as dívidas – reconfigurou o mercado de telecomunicações nos EUA. No início de 2014 outra aquisição havia provocado impacto semelhante, com a compra pela Comcast da Time Warner Cable por US$ 45 bilhões. A aquisição da DirecTV pretende criar a maior empresa do mundo no setor, com 30 milhões de assinantes – correspondente a 30% do mercado de TV paga e 40% da área de internet banda larga em território dos Estados Unidos. Para alguns analistas, a compra da DirecTV pela AT&T foi influenciada também pelo negócio entre a Comcast e a TWC.
As duas aquisições estão em processo de aprovação pelo FCC que em outubro de 2014 analisava questões envolvendo contratos confidenciais de programação. Se for aprovada, a AT&T terá mais 20,3 milhões de clientes da DirecTV nos EUA adicionados aos 57 milhões de clientes de TV paga. No Brasil, o CADE aprovou sem restrições a operação. Por ter participação acionária na América Móvil, controladora da Claro, Net e Embratel no Brasil, a AT&T precisou se desfazer de sua participação de 8% na companhia mexicana. O objetivo era evitar sobreposição ou relação vertical no Brasil, já que a Sky e a Net são concorrentes no mercado.
Outra movimentação recente da companhia diz respeito à construção de um novo satélite, o Sky-Brasil 1, com previsão de entrega no segundo trimestre de 2016. O satélite modelo Eurostar E3000, projetado para durar mais 15 anos, fornecerá serviços de transmissão por até 60 transponders em banda Ku para o Brasil, cobrindo todo o território nacional.
Conselho de Administração
No cargo desde 2006, Luiz Eduardo Baptista é o atual presidente da Sky Brasil. Na presidência da DirecTV US está Michael White, no cargo desde 2009, e Bruce B. Churcill ocupa a presidência da DirecTV Latin America. O presidente da AT&T é Randall L. Stephenson.
Faturamento
Os balanços financeiros divulgados em 2014 pela DirecTV relativos à Sky Brasil mostram crescimento de 7,2% na receita líquida entre 2012 (US$ 3,501 bilhões) e 2013 (US$ 3,753 bilhões). Entre 2011 e 2012 a diferença foi maior, com crescimento de 15,9% na receita (US$ 3,020 bilhões em 2011).
Referências
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