A Vivendi é um conglomerado de mídia e telecomunicações originário da França que atua nos setores de televisão, cinema, telecomunicações e música. A holding possui subsidiárias em países europeus e africanos, além do Brasil e Vietnã. O grupo Vivendi surgiu em 1998 a partir da Compagnie Générale des Eaux (CGE), empresa francesa de distribuição de água criada por decreto imperial em 1853 para fornecer o serviço na cidade de Lyon. Posteriormente, em 1860, a CGE iniciou suas atividades na capital Paris e, após mais de cem anos de atuação, a partir de 1980, expandiu-se em setores como gerenciamento de resíduos, energia, serviços de transporte, construção e patrimônio. Em 1999, a Vivendi se desfez dos seus negócios tradicionais, que passaram a compor a Vivendi Environnement, rebatizada para Veolia Environnement em 2003.
A Vivendi controlou a operadora de telefonia fixa, banda larga e TV por assinatura brasileira GVT (100%) até 2014, quando vendeu a companhia para o grupo espanhol Telefonica. Ainda controla a segunda maior operadora francesa de telecomunicações, a SFR (100%). São grupos subsidiários da Vivendi o Canal+ (100%), de televisão por assinatura, produção e distribuição de filmes; os players do setor de ingressos online Digitick (100%) e See Tickets (100%); a plataforma on-line especializada em aconselhamentos profissionais Wengo; e a Whatchever, que oferece serviço de TV pela internet (video-on-demand) na Alemanha.
GVT
A Global Village Telecom (GVT) foi fundada no fim da década de 1990 pelo executivo israelense Amos Genish em Miami, Estados Unidos. De 1997 a 1999, a empresa venceu leilões da área de telecomunicações em países da América Latina, como Chile, Peru e Colômbia, e iniciou projetos na Ásia.
Por conta da experiência com telefonia rural por satélite nessas regiões da América Latina, a GVT foi convidada pela Brasil Telecom, hoje Telemar/Oi, para apoiá-la na oferta de serviços de telefonia em pequenas cidades da Amazônia, após exigência de implantação do serviço pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), já que os controladores da operadora brasileira não pretendiam instalar redes próprias na região.
Em 1999, com oferta de R$ 100 mil, Genish conquistou junto à Anatel a concessão da Região II, correspondente ao Sul, Centro-Oeste e Norte do país para atuação como empresa espelho[1] da Brasil Telecom. Inicialmente, apresentaram propostas no leilão, além da GVT, a Vesper e a Tele Centro-Oeste Celular (que retirou sua oferta pouco antes). A Vesper ofereceu R$ 5 milhões contra os R$ 100 mil da GVT, mas a Anatel se interessou pela promessa de alcance de cobertura e propostas de investimentos futuros da GVT. Na época, a paranaense Inepar, que havia participado do projeto da Telemar no Amazonas, propôs a criação de uma joint venture com a GVT para disputar a concessão. Três dias antes do leilão, porém, a Inepar desistiu do negócio.
No início das suas operações no Brasil a GVT era formada pelo Magnum Group, por meio do também israelense Shaul Shani, e por seu presidente e fundador Amos Genish. Em seguida, passaram a compor a operadora o israelense IDB Group, com 28% de participação, e a americana Merrill Lynch, com 16% de participação. Shani seguia com 56% da GVT.
Em fevereiro de 2007, as ações da GVT passaram a ser negociadas na Bovespa e a oferta levantou R$ 1,1 bilhão. Em 2009, ao passo que a espanhola Telefonica tentava a compra da GVT por meio de uma oferta pública, o conglomerado francês Vivendi adquiriu o controle da companhia diretamente no mercado, com 57,5% das ações e custo de R$ 7,2 bilhões. A pulverização das ações da empresa chegava a 65%, segundo a Folha de São Paulo. Em 2010, a Vivendi passou a controlar 100% das ações da GVT e manteve Amon Genish no comando da companhia.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) considerou a operação de compra das ações da GVT irregular e a Vivendi foi multada em R$ 150 milhões. A Telefonica decidiu também mover ação contra a francesa por considerar, como a CVM, que não havia garantia de que a Vivendi detinha o controle da operadora brasileira no momento em que o anunciou ao mercado.
Atualmente, a GVT está presente em 156 cidades de 20 estados brasileiros com serviços de banda larga, TV por assinatura e telefonia fixa. De acordo com dados da Anatel, a participação da companhia no mercado de telefonia, em acessos, passou de 1,97%, em 2007 para 8,22%, em 2012. Em TV por assinatura, seu crescimento foi de 59,18% de 2012 para 2013.
Movimentações recentes
Em 2011, a Vivendi comprou a participação de 44% da britânica Vodafone na operadora SFR por € 7,95 bilhões e passou a deter todo o capital da empresa. No mesmo ano, a GVT entrou no mercado de TV por assinatura, com a aprovação no mesmo ano da Lei 12.585, que dispõe sobre a comunicação audiovisual de acesso condicionado. Com a nova legislação, as empresas de telefonia passaram a utilizar sua infraestutura para também oferecer serviço de TV paga.
Em 2012, o conselho da Vivendi decidiu se concentrar nos mercados de mídia e conteúdo. A partir de então, a companhia iniciou o processo de redução e venda de suas participações nos negócios de telecomunicações e games. Em 2013, a produtora de games Activision Blizzard comprou por US$ 8,2 bilhões grande parte das ações da Vivendi na companhia. Antes com 61% das ações, o grupo passou a ter 12% de participação e perdeu o controle financeiro da Activision.
Em maio de 2014, a Vivendi seguiu com a estratégia de reduzir sua participação na produtora e alienou metade das suas ações, permanecendo com apenas 5,8% da Activision. No mesmo mês, a Vivendi anunciou a conclusão da venda de 53% da operadora de telefonia Maroc Telecom para a Emirates Telecommunications por US$ 5,7 bilhões. Também no início do ano, o grupo francês aceitou a oferta da Altice, holding do Numericable Group, para a compra da operada de telecomunicações da SFR. Com o acordo, a Altice deveria pagar €13,5 bilhões, com possibilidade de adicional de € 750 milhões. A Vivendi ficaria com 20% do grupo formado pela fusão entre SFR e Numericable.
No Brasil, em outubro de 2014, a Vivendi concluiu acordo para a venda da GVT ao grupo de telecomunicações espanhol Telefonica, controlador da operadora Vivo no Brasil. O grupo espanhol já havia tentado comprar a GVT em 2009. Além de € 7,2 bilhões em dinheiro e ações, a Vivendi receberá 7,4% de participação na Telefônica Brasil. A transação está sujeita a aprovação regulatória. No início de 2013, a Vivendi já tinha suspendido a primeira tentativa de venda da GVT após a americana DirecTV desistir de concorrer pela companhia. O grupo francês pretendia vender a GVT por R$ 7 bilhões.
Faturamento
O levantamento Top Thirty Global Media Owners divulgado no início de 2014 pela ZenithOptimedia, do grupo Publicis, aponta que a Vivendi ocupa a 14ª posição no ranking dos maiores conglomerados de mídia do mundo em receita. Com faturamento de US$ 6,8 bilhões nos negócios de mídia, o grupo francês ficou à frente do Yahoo!, Globo, Televisa e Facebook.
Em 2014, somandos os negócios da Universal Music e GVT, o Brasil correspondia, de acordo com o jornal Valor Econômico, a 15% do faturamento do grupo Vivendi. Em 2013, a receita líquida do conglomerado francês somou €22,135 bilhões, apresentando queda de 2% em relação ao ano anterior. A queda de receita na operadora de telecomunicações francesa SFR chegou a 9,6%. A receita líquida da operadora passou de € 11,2 bilhões, em 2012, para €10,1 bilhões, em 2013.
No mesmo período, a GVT apresentou crescimento de 13% em sua receita líquida, que passou de R$ 4,3 bilhões para R$ 4,8 bilhões. (€ 1,71 bilhão). A desvalorização da moeda brasileira, porém, prejudicou os resultados da empresa, ocasionando um diminuição da receita total em euros de 0,4%.
O faturamento da GVT teve a maior evolução entre os canais de TV por assinatura nos últimos anos, com crescimento de 135,5% em 2013 e receita de R$ 486 milhões. Na banda larga, o crescimento foi de 14,4% – de R$ 1,2 bilhões em 2012 para R$ 1,4 bilhões em 2013, enquanto a telefonia fixa teve expansão de 6,8% para R$ 2,4 bilhões.
Referências
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[1] Com a privatização do Sistema Telebrás em 1998, Anatel permitiu a entrada de empresas “autorizatárias” nas áreas de atuação das operadoras concessionárias, com o objetivo de estimular a competição. As empresas concorrentes foram denominadas “espelho”.